ESCOLA PRA QUÊ?

Caríssimos (as), nunca fui bom com as letras arrisco um x, um y e de vez em quando um z, de forma que recorro ao auxílio do poeta para justificar um pedido que será entendido no decorrer da “minha epopeia matemática”. Diz assim: - Esta vai com a candeia na mão morrer nas de V. M.; e, se daí passar, seja em cinza, porque não quero que do meu pouco comam muitos. E se todavia, quiser meter mais mãos na escudela, mande-lhe lavar o nome, e valha sem cunhos. ( Camões, cartas- de Celta I).
- Primavera de 1970 desembarquei neste planeta trazendo felicidade, alegria e algumas preocupações à professora Natalina minha mãe, ao bancário David meu pai e familiares. Diagnosticado com Pé Torto Congênito, de gravidade tal que os médicos sugeriram que o tratamento iniciasse imediatamente. Sugestão aceita e antes de completar um ano de idade já havia passado por duas cirurgias, que apesar de bem-sucedidas deixaram sequelas que seriam evidenciadas, no segundo lugar em que eu passava a maior parte do meu tempo, a Escola.
Nos anos iniciais despertava a curiosidade dos meus coleguinhas, mas concluí sem problemas. Ingressei então no ginásio, mudei de escola, de bairro e de colegas. As curiosidades de antes deram lugar às piadas dos novos colegas . Tropeçava na própria perna. Comecei a ter problemas de convívio na escola e passei a tropeçar também nas matérias e o meu maior tropeço foi em matemática , fiquei de recuperação, apareceram os xis e os ípsilons. Vieram as aulas de reforço, meu professor, que era meu tio, trocou as letras por bananas, laranjas e outras frutas, deu certo, compreendi o que se passava, comecei a ter outra visão sobre aqueles problemas, passei a ter gosto pela matemática e ao final da oitava série eu ensinava matemática para os meus colegas de classe e para outras crianças do condomínio.
-O ingresso no ensino médio.
Tudo corria bem, as piadas continuavam, mas eu mudei encarava-as sem problemas. Primeiro e segundo ano perfeitos. Neste momento eu trabalhava, estudava e arranjava tempo para diversão, isto me trouxe outro problema, envolvimento com álcool e outras drogas. Situação que prejudicou minha trajetória acadêmica. Terminei o terceiro ano com dificuldades. Nos momentos de lucidez lia muito, sempre gostei. Herdei da minha mãe a paixão pela leitura e do meu pai herdei a habilidade com cálculos e o alcoolismo. Em meio as algumas paradas forçadas eu lecionava matemática, sempre auxiliado pelo meu tio professor.
-A sonhada universidade.
Ingressei no curso de filosofia na Faculdade Assunção Ipiranga e após três semestres larguei. Motivo? Álcool, novamente. Tempos de aflições, após várias tentativas e um tratamento sério e efetivo, iniciado em 1997 e que dura até hoje. Concluí o ensino superior na UnG em 2006 sem DPs.
Aprendi novas metodologias a serem aplicadas em sala de aula, conheci a metodologia de Ubiratan D’Ambrósio e sua matemática humanizada, a etnomatemática. Hoje sou o professor David, humano, falho e leciono para outros igualmente humanos e falhos, com suas peculiaridades, necessidades e deficiências, mas acredito no potencial de todos por que acredito também que todos podem,
...Brilhar para sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
Gente é pra brilhar
que tudo o mais vá prá o inferno,
este é o meu slogan
e o do sol. (Maiakóvski)
Então, vamos brilhar e possibilitar que nossas crianças brilhem, e construirmos assim um futuro melhor!