A NECESSIDADE FEZ A MATEMÁTICA

Penso que a matemática se tornou uma grande vilã em virtude dos meios pelos quais foi sendo ensinada durante muito tempo. Lembro-me que eu tinha uma imensa dificuldade de realizar as atividades passadas pela professora, daquele livro cheio de números, poucas letras e sem imagens nenhuma.
Tortura era pouco, quando a professora pedia para eu fazer os exercícios da página X até o além, e que cada exercício tinha quase o alfabeto inteiro.
Na hora da sabatina, chamada oral com direito à palmatória e tudo isso, por incrível que pareça, era normal. Se eu chegasse em casa e falasse que levei “bolo” da professora porque errei uma resposta, levava mais “bolo”. Desse jeito era melhor montar uma casa do “bolo”.
Cresci com um sentimento de insegurança com relação a matemática. Não gostava da disciplina e procurava fazer o essencial para poder ir para série seguinte.
Logo, assim que conclui o ensino fundamental, meu pai veio a falecer, nessa época eu estava com 13 anos e senti, pela primeira vez, a responsabilidade de ajudar minha mãe, mas para isso eu precisava fazer algo, foi nesse momento que a matemática da vida bateu em minha porta, tudo terminava em cálculos.
Um ano após o falecimento do meu pai, mudei-me para São Paulo com a esperança de ter um bom trabalho e poder ajudar a minha família. Assim aconteceu, conclui o ensino médio em 1985. Em 1986 prestei concurso público, empresa de transporte e, mais uma vez, a matemática estava lá na prova e posteriormente no cargo em que ocupei durante 10 anos “recebedor de féria”.
O período que fiquei afastado dos estudos foi longo, por diversos motivos, principalmente o financeiro. Minha graduação em administração de empresas aconteceu em 1997, um ano depois de ter perdido meu emprego na CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos).
O ano 2000 chegou, e o mundo não acabou. Foram três anos de muitas oportunidades, de 1997 a 2000, trabalhei na área de vendas, alimentação e em especial alfabetização de adultos, ganhando um auxílio de RS200,00. Neste período que me dediquei no desenvolvimento do projeto educação solidária - Jovens e adultos, nasceu o encanto em trabalhar como educador, mediador, professor.
Ainda em 2000 iniciei o curso Complementação Pedagógica e Matemática, em agosto de 2001 peguei minhas primeiras turmas na rede estadual. Foram vários os desafios enfrentados, no entanto a cada adversidade que aparecia, via naquela situação a possibilidade de fazer melhor da próxima vez. Uma coisa era certa, muitas vezes me pegava reproduzindo o que minha professora fazia comigo.
Mas tudo isso é passado. Hoje tenho a certeza de que a construção do conhecimento matemático vai além dos números e dos cálculos, mas envolve habilidades socioemocionais, envolve a interação dos atores do processo ensino e aprendizagem.
Hoje, enquanto professor do Programa de Ensino Integral, vejo que eu só tenho melhorado minha prática, se antes eu já buscava minha formação continuada, agora a necessidade de acompanhar as mudanças que a sociedade vem sofrendo ao longo dos anos, se faz necessário o continuar aprendendo práticas diferentes e, assim, poder contribuir na formação desse sujeito competente, autônomo e solidário no conhecimento matemático e, consequentemente, de mundo.
Para finalizar, durante essa trajetória, minhas fragilidades me proporcionaram uma mudança muito positiva enquanto professor de matemática. Não tenho a matemática como vilã, o passado não me apavora, hoje ele só me faz refletir em ser um professor como posso fazer a diferença na vida do meu aluno.